Timotchka

O período que se segue a cada uma das sete-oito refeições diárias do Timotchka não é sempre totalmente pacífico. O recurso a uma chupeta, quase um atentado aos Direitos Humanos da Criança, não pode ser sempre evitado. Em última análise, aconchegar-se com o ouvido muito perto do ribombar cardíaco rítmico do pai tem evidentes propriedades somníferas. Para ambos.

Fomos a um pediatra. Credo na boca porque umas manchas poderiam ser varicela.. o azar-dos-távoras da varicela do recém-nascido, quando a mãe é infectada nos últimos dias antes do parto e não tem tempo de lhe transmitir os anticorpos que vai produzir porque a criança nasceu entretanto.. Parece que podemos excluir o drama.. Timotchka marca o território da marquesa de observações com um belo repuxo.. À saída a recepcionista elogia-me "o bom ar da minha filha", para mais quase acabada de dar à luz... Olho-a fixamente por um décimo de segundo, depois sorrio (que outra coisa a fazer?)... "Não. Este aqui (aponto para a criaturinha adormecida) não é meu neto mas meu filho".. Sorriso embaraçado da dita.. A Russkaya esforça-se por não rir.. Venho cá para fora jodido... A Russkaya diz-me que tenho que dormir melhor... A minha única consolação é que o Timotchka obrigou a muda de lençóis na marquesa, vingando assim, por antecipação, a afronta...

Parece publicidade subluminal à marca glamorosa de carrinhos de bébé... Com o barrete à schtroumph, Timotchka será levado num cesto, que aqui muito apropriadamente se chama "moisés", do quarto do hospital para o carro e do carro para a porta do prédio.. Dois momentos de contacto com o "lá fora".. Regressa a casa, agora em estatuto extra-uterino... Boa sorte, filhote!